

As caraterísticas peculiares das serranias de Lafões, desde o Caramulo com alguma humidade até ao São Macário mais agreste e menos habitado, proporcionam excelentes qualidades vegetais e climatéricas para a produção de um mel de excelência. Apesar dos incêndios (“praga” recorrente) e de outras pragas mais invasivas (como vem sendo a vespa asiática), o nosso mel pode ser considerado dos melhores do país.
Mel de Lafões:
Substância natural e açucarada, produzida por abelhas melíferas (Apis mellifera).
Resulta da extração do néctar de plantas ou das secreções provenientes de partes vivas de plantas, que as abelhas recolhem, transformam, depositam, desidratam, armazenam e deixam amadurecer nos favos da colmeia.
O mel de Lafões possui uma consistência espessa e pegajosa, podendo ser mais ou menos líquido. A cor varia entre o âmbar claro e o castanho-escuro, dependendo do tipo de florada que lhe deu origem, possuindo transparência e acidez variáveis. O sabor é extremamente doce e impositivo, com aroma adocicado e característico.
Características particulares (sinais que evidenciam a singularidade do produto):
O mel de Lafões classifica-se como multifloral em resultado da diversidade de flores e de árvores na região. Por regra, na primavera, o mel de Lafões é mais claro e leve, resultante da recolha do pólen nas flores das árvores de fruto, das flores das plantas hortícolas e do eucalipto. Mais tarde, no início do verão, o mel vai escurecendo pois a base passa a ser a flor do castanheiro e do sabugueiro, bem como o néctar das frutas.
Nas regiões mais montanhosas de Lafões, como sejam as encostas do Caramulo e da Gralheira, pode surgir um mel monofloral à base de urze.
É um produto de elevada pureza, de fácil armazenamento e que se conserva por largos períodos de tempo.
O mel de Lafões é conhecido pelos ricos teores nutricionais (açucares, cálcio, fósforo e magnésio) e pelas suas características medicinais (ajuda nos processos de cicatrização, tonificação e rejuvenescimento da pele e dos músculos, fortalece a consistência óssea, facilita o processo digestivo e tem várias outras ações benéfica em múltiplos processos metabólicos e mesmo neurológicos).
O nosso mel é proveniente das terras dosconcelhos da região de Lafões (Oliveira de Frades, São Pedro do Sul e Vouzela). O mel de Lafões não se encontra abrangido por nenhuma classificação DOP (Demonização de Origem Protegida) mas possui semelhanças com o mel das DOP que a circundam: DOP da Lousã, DOP das terras altas do Minho e DOP da Terra Quente.
Modo de preparação:
Diariamente, uma abelha pode visitar mais de 50 mil flores e fazer 13 a 17 viagens, num raio que pode chegar aos 5 quilómetros em volta da colmeia.
O mel é, assim, o produto que resulta da extração do alimento que as abelhas criam e armazenam dentro das colmeias. Trata-se de um alimento totalmente natural, com elevado valor calórico.
É um alimento inigualável que contém proporções equilibradas de fermentos, vitaminas, minerais, ácidos e aminoácidos. Pode ser consumido por qualquer pessoa, diariamente, em qualquer idade, pois equilibra os processos biológicos do corpo (exceto crianças pequenas que podem desenvolver botulismo infantil).
O mel pode ser consumido puro ou diluído em sumos, licores, iogurtes, bolos, biscoitos, ou misturado com frutas e queijos.
É usado na gastronomia regional de Lafões como adoçante natural, como tempero ou como acompanhamento em diversos pratos, sejam sobremesas, entradas ou pratos principais Frequentemente, o mel acompanha sobremesas e entradas à base de queijos.
Formas de comercialização e disponibilidade do produto ao longo do ano:
O mel de Lafões é vendido todo o ano, diretamente pelos produtores ou por alguns estabelecimentos locais dedicados à comercialização de produtos endógenos.
A comercialização é, por regra, feita em frascos de vidro, com capacidade de 1 quilograma ou meio quilograma e recomenda-se a encomenda prévia para grandes quantidades ou em anos de baixa produção.
O mel lafonense é facilmente identificável através da rotulagem, a qual deve descriminar, de entre as demais informações obrigatórias, a sua origem e o contacto do apicultor.
Para além do mel em si, a apicultura lafonense tem potencial para extrair e comercializar subprodutos melíferos como o pólen apícola, a geleia real, os favos, a apitoxina e a cera. Contudo, pela complexidade e custos envolvidos nos processos de extração, atualmente não se comercializam estes produtos.
Historial do produto e Representatividade na alimentação local:
O mel de Lafões é um produto natural, cujo consumo é conhecido desde a época pré Cristã. Inicialmente era um produto selvagem coletado na natureza e só mais tarde surgiu sob a forma de apicultura, enquanto técnica de domesticação de abelhas e de produção de mel com intervenção humana.
Os gregos e os romanos chamavam ao mel «ambrósia» e consideravam-no um «alimento digno dos deuses». Foi neste período histórico que surgiu a apicultura e a construção das primeiras colmeias, então feitas de cortiça (apesar de os egípcios, os persas e os chineses já praticarem um tipo de apicultura rudimentar).
Em Lafões, sobretudo nas encostas serranas, a apicultura é uma atividade milenar e o mel tornou-se uma constante na alimentação.
Para além das suas características nutricionais e terapêuticas, o mel foi largamente usado na doçaria local, sobretudo por ser o único adoçante nativo disponível (a par de algumas plantas) e por se tratar de um produto que não se deteriora e que armazena facilmente.
Disponibilidade do produto (em extinção, oferta continua, recuperação):
O mel lafonense tem produção contínua mas variável, dependendo de características naturais e anuais, sobretudos fatores climáticos e outros que influenciem os ciclos de floração e de frutificação.
O setor apícola encontra-se ativo, em declínio acentuado deste os graves incêndios florestais de 2017, e com forte tendência ao abandono se não forem tomadas medidas a curto prazo. Os dados relativos ao ano de 2020 revelam que o número de apicultores registados em Lafões é de 314, representando 5.419 colónias, em colmeias ou cortiços.
Os severos incêndios da região queimaram inúmeras colmeias e devastaram a flora endógena o que levou à fome das abelhas e à extinção de muitas colónias. Incapazes de colher néctar e pólen as abelhas não conseguem alimentar-se e passou a ser recorrente que os apicultores tenham de alimentar as colónias de forma artificial, tentando evitar o colapso das colmeias.
As quebras na produção do mel chegaram aos 80% nos últimos anos.
Uma colmeia lafonense saudável, com alimento disponível, chegava a produzir cerca de 20 quilogramas de mel/ano e, atualmente, gera menos de 5 quilogramas/ano.
A juntar a estes fatores, a apicultura lafonense enfrenta outros perigos, como: as pragas das colmeias (das quais se destaca a Varrose), algumas doenças nas abelhas, a introdução da vespa asiática nos ecossistemas (vespa não endógena que se alimenta das abelhas), as alterações climáticas (com períodos de pouco calor alternados com calor extremo que, direta e indiretamente, influenciam a fauna e flora, a disponibilidade de água e de alimento, bem como interferem nos ciclos reprodutivos).
Estes fatores juntam-se a utilização crescente de produtos químicos e herbicidas na floricultura e na agricultura, a seca e a contaminação de cursos de água.
Notícias sobre o roubo de colmeias e de enxames tornaram-se recorrentes.
Dadas as dificuldades que o setor enfrenta, os baixos rendimentos e os fracos apoios existentes, a apicultura não se mostra um setor atrativo ao investimento.
Alguns apicultores locais recusam-se a abandonar esta atividade por paixão à apicultura mas alguns têm mesmo vindo a abandonar a atividade ou a reduzir o número de colmeias. Atualmente, cerca de 60% dos apicultores têm menos que 10 colmeias.
As atuais medidas de incentivo surgem no âmbito do PDR2020 (apoios para a instalação de empresários agrícolas). Contudo, esta medida implica a instalação de – pelo menos – 250 colmeias por empresário, o que a torna pouco atrativa.
Algumas entidades locais realizam sessões de informação e prestam apoio à apicultura, como a associação Verdelafões, que atuam no âmbito do PAN (Programa Apícola Nacional). As medidas atuais são insuficientes face às necessidades do setor.
Os municípios lafonenses envolvem-se nesta causa, atuando sobretudo no combate à vespa asiática e promovendo a realização de eventos culturais e gastronómicos que facilitem a divulgação e a comercialização do mel de Lafões, como seja o “Festival da doçaria”, em Vouzela” ou o “Percurso da castanha e do mel”, em São Pedro do Sul.
Elementos documentais:
– Decreto de Lei nº 214/2003 de 18 de setembro.
– Gastronomia e desenvolvimento local, ADDALAP, Cristina Barroco, Luísa Augusto e colaboração de Luís Simões , 2015: http://addlap.pt/web/upload/Territorio/Territorio_Ativo/Gastronomia_e_Desenvolvimento_Local_versao_final.pdf
– Parâmetros de avaliação da qualidade do mel e perceção do risco pelo consumidor, Tese FCUP/FCNAUP: https://www.cothn.pt/publicfiles/mojojau0bj7d3pgqfjcszpwdtos8oefzzh4hlsxk.pdf
Especiais agradecimentos:
– VERDELAFÕES – associação de produtores florestais: https://www.verdelafoes.org/conteudos.asp?menu_id=3
– António Henriques (apicultor nos concelhos de Vouzela e Oliveira de Frades)
Confrade Carlos Almeida (Vice Presidente da Confraria dos Gastrónomos de Lafões)